After

Dizem que os primeiros 6 meses de toda mudança são os mais difíceis. Bom, acho que no meu caso, pelo menos, eles me pareceram os mais fáceis.

A gente chegou cheios de animação, ideias, expectativas e esperanças. Eu achava que sabia que seria difícil, mas também me achava especial o suficiente para pensar que comigo seria diferente. A gente sempre pensa, não é? Achei que fosse conseguir arrumar trabalho tranquilamente, e que ganharia um salário justo. Achei que o Permesso do Ti sairia em pelo menos 3 meses, e no fim está levando 7. Achei que a gente teria dinheiro para passear, para comer fora, para viver, e a verdade é que o dinheiro da nossa poupança está indo embora e ver a conta esvaziar me dá uma agonia do caramba.

Eu fui rejeitada em diversos processos seletivos. Meu currículo tanto para atendente de balcão em sorveteria quanto para Marketing são descartados logo de primeira. O Ti está entregando pizza, meu salário é ridículo de pequeno e eu trabalho de 8 a 15 horas por dia. Fora que a empresa para a qual eu trabalho (ah, eu sou recepcionista, esqueci de falar, né?) fica em Milão, e a viagem daqui para lá é de quase 2 horas para ir e mais 2 horas para voltar.

Eu tenho mil currículos para enviar, empresas da região para eu pesquisar e tentar uma vaga, mas o que eu fico fazendo o dia inteiro? Todas as outras coisas que não tem importância nenhuma. Vejo Grey's Anatomy, escrevo nesse diário, como, corto o cabelo, tiro o bigode, mas tentar uma vaga melhor, eu deixo para lá.

Não sei explicar o porque. Medo? Preguiça? Já ouvi tantos 'nãos' desde que cheguei, que desanimei. Queria uma injeção de ânimo. Um incentivo. Uma força sobrenatural que me faça correr atrás das coisas. Eu sei que essa força existe dentro de mim. Eu a sinto. Mas ela fica camuflada em baixo dessa casca que se chama 'auto estima'. Me sinto fraca, rejeitada, a pior pessoa do mundo. É difícil aceitar tudo isso, e saber que eu preciso me curar sozinha. Não adianta ter saído do Brasil se eu não conseguir mudar as coisas ruins que eu tenho dentro de mim.

Vou deixar aqui uma mensagem que eu gosto bastante de ler de vez em quando. E sempre que eu abrir esse diário, daqui alguns anos, quero me recordar que superei mais esse obstáculo.

Ana Laura Vassoler

42 chapters

16 Apr 2020

O capítulo chato do desabafo

October 07, 2018

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Ana Laura, Carate Brianza, Itália

Dizem que os primeiros 6 meses de toda mudança são os mais difíceis. Bom, acho que no meu caso, pelo menos, eles me pareceram os mais fáceis.

A gente chegou cheios de animação, ideias, expectativas e esperanças. Eu achava que sabia que seria difícil, mas também me achava especial o suficiente para pensar que comigo seria diferente. A gente sempre pensa, não é? Achei que fosse conseguir arrumar trabalho tranquilamente, e que ganharia um salário justo. Achei que o Permesso do Ti sairia em pelo menos 3 meses, e no fim está levando 7. Achei que a gente teria dinheiro para passear, para comer fora, para viver, e a verdade é que o dinheiro da nossa poupança está indo embora e ver a conta esvaziar me dá uma agonia do caramba.

Eu fui rejeitada em diversos processos seletivos. Meu currículo tanto para atendente de balcão em sorveteria quanto para Marketing são descartados logo de primeira. O Ti está entregando pizza, meu salário é ridículo de pequeno e eu trabalho de 8 a 15 horas por dia. Fora que a empresa para a qual eu trabalho (ah, eu sou recepcionista, esqueci de falar, né?) fica em Milão, e a viagem daqui para lá é de quase 2 horas para ir e mais 2 horas para voltar.

Eu tenho mil currículos para enviar, empresas da região para eu pesquisar e tentar uma vaga, mas o que eu fico fazendo o dia inteiro? Todas as outras coisas que não tem importância nenhuma. Vejo Grey's Anatomy, escrevo nesse diário, como, corto o cabelo, tiro o bigode, mas tentar uma vaga melhor, eu deixo para lá.

Não sei explicar o porque. Medo? Preguiça? Já ouvi tantos 'nãos' desde que cheguei, que desanimei. Queria uma injeção de ânimo. Um incentivo. Uma força sobrenatural que me faça correr atrás das coisas. Eu sei que essa força existe dentro de mim. Eu a sinto. Mas ela fica camuflada em baixo dessa casca que se chama 'auto estima'. Me sinto fraca, rejeitada, a pior pessoa do mundo. É difícil aceitar tudo isso, e saber que eu preciso me curar sozinha. Não adianta ter saído do Brasil se eu não conseguir mudar as coisas ruins que eu tenho dentro de mim.

Vou deixar aqui uma mensagem que eu gosto bastante de ler de vez em quando. E sempre que eu abrir esse diário, daqui alguns anos, quero me recordar que superei mais esse obstáculo.

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