After

No capítulo anterior, eu contei o início da trajetória de virmos morar na Itália. Alguns detalhes foram deixados de fora - propositadamente - porque tem tanta coisa para dizer, que o texto ficaria grande demais. Mas um diário bom que se preze precisa conter os detalhes, né.

Esse capítulo deveria se chamar "Come mai sei stata in Italia?" ou "Porque você veio para a Italia?", porque o tempo inteiro ouvimos essa pergunta. Foram tantas idas, vindas, indecisões, discussões, que as vezes, vivendo aqui, eu nem me lembro tudo o que passou. E não queremos esquecer, porque isso também fez parte da nossa história.

Nossa primeira indecisão foi sobre aonde morar. Tudo começou com Londres. Queríamos viver na Inglaterra, pela língua, pelas oportunidades, pela vida. Mas bem na época em que eu estava tirando minha cidadania, a Inglaterra decidiu sair da União Europeia, e apesar de ainda estar em andamento, nossa vida ficaria um pouco complicada caso de fato saísse. Abortamos a missão. Depois disso, cogitamos morar na Austrália através de um programa para pessoas de até 30 anos com cidadania Européia, porém a correria seria muito grande porque eu já estava quase completando a idade limite (velha). Irlanda superlotada de brasileiros. Canada sem vantagem nenhuma para o meu passaporte. Portugal em crise. Itália nem cogitamos - não falávamos italiano e o país estava super lotado de imigrantes. Holanda. Analisando todos os objetivos que tinhamos em mente, a Holanda era o ideal! Alta qualidade de vida, baixa taxa de desemprego, Amsterdam é maravilhosa, custo de vida médio/alto, mas o salário era compatível... tinha tudo o que queríamos! Decidido! Batemos o martelo, compramos a passagem, e lá fomos nós pesquisar tudo sobre nosso futuro novo lar. Noites em claro procurando apartamento, pesquisando sobre trabalho, sobre visto pro Tiago... cada dia parecia ser mais difícil ainda!

Nessa mesma época, minha mãe contou para uma grande amiga dela, a Lourdes, que estávamos decididos a ir embora do país, especificamente para a Holanda. Essa amiga da minha mãe tem uma
"prima da filha da amiga da vizinha" (mentira, é só prima mesmo), a Barbara, que vive na Bélgica há alguns anos. Ela sugeriu que nós entrássemos em contato com sua prima para pegar alguns dicas, já que a Bélgica e a Holanda ficam coladinhas uma na outra. Eu já conhecia a Barbara de longas datas, já que quando éramos crianças costumávamos brincar juntas nas férias de verão no Guarujá. Foram quase 25 anos de distanciamento até eu chamá-la no WhatsApp no começo de 2018.

A Barbara foi gentil, simpática e prestativa desde o início! Me ligava para conversarmos, estava sempre disponível para me ajudar com as minhas inseguranças sobre o nosso destino e deu várias dicas do que poderíamos fazer.

Algumas semanas depois, no começo de janeiro, ela veio com uma nova proposta que mudou tudo o que vinhamos pensando até aquele momento: o Matteo, seu namorido, tinha um apartamento vazio em uma cidade próxima a Milão, Imbersago, e poderia alugar para nós.

Conversei com o Ti naquele mesmo dia, mas a resposta foi bem diferente do que eu esperava: um alto e sonoro NÃO. A questão é que o Ti demora muito para tomar uma decisão, mas quando toma, não quer mudar. E ele se apegou à ideia de ir para a Holanda, de viver em Amsterdam. Eu entendo - já tinhamos passagens compradas, tinhamos perdido muito tempo vendo tudo sobre o país, ele estava estudando inglês e já tinhamos falado para um monte de gente que iriamos para a Holanda. Ele não queria mudar tudo em cima da hora e eu entendi. Continuamos então na saga do apartamento e do visto dele na Holanda, e conforme os dias iam passando, eu ia ficando mais e mais angustiada. O coração apertado do medo, da ânsia, de não saber o que aconteceria quando chegassemos lá.

Mas depois de alguns dias o Ti resolveu conversar comigo sobre isso e reconsiderar a ida para a Itália. Confesso que também não era o que eu queria, meu objetivo era um país que falasse inglês, e a Itália estava bem longe de ser esse lugar. Mas resolvemos apostar nossas fichas e começar um lugar mais "seguro" onde eu já teria a cidadania e uma casa. Quem sabe mais para frente poderiamos nos mudar.

A partir desse dia fomos repensando toda a nossa rotina, ficamos mais próximos da Barbara e meu coração se acalmou. Remarcamos a nossa passagem. Alguns dias antes de embarcarmos, a Barbara mandou mais uma mensagem falando que seu marido tinha sugerido ficarmos em uma cidade chamada Carate Brianza, no apartamento que tinha sido do pai dele. Nos mandou fotos, mapas, e tudo o que poderia para nos apresentar esse novo local, que prontamente aceitamos.

A Barbara e o Matteo são nossos padrinhos nessa nova vida. Espero que um dia possamos retribuir a eles toda a ajuda, o carinho, a paciência, o dinheiro investido (os passeios para os quais nos levaram, o apartamento alugado com um preço abaixo do mercado). Espero honestamente, também, que um dia possamos fazer por alguém o mesmo que eles fizeram por nós! Dizem que devemos nos dar o direito de aceitar as coisas boas que as pessoas fazem por nós, como uma corrente do bem. Estamos aceitando com a maior gratidão do universo, Matteo e Barbara. Obrigada <3

Ana Laura Vassoler

42 chapters

16 Apr 2020

[RE]começo - Parte 2

August 04, 2018

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Ana Laura, Carate Brianza (Italia)

No capítulo anterior, eu contei o início da trajetória de virmos morar na Itália. Alguns detalhes foram deixados de fora - propositadamente - porque tem tanta coisa para dizer, que o texto ficaria grande demais. Mas um diário bom que se preze precisa conter os detalhes, né.

Esse capítulo deveria se chamar "Come mai sei stata in Italia?" ou "Porque você veio para a Italia?", porque o tempo inteiro ouvimos essa pergunta. Foram tantas idas, vindas, indecisões, discussões, que as vezes, vivendo aqui, eu nem me lembro tudo o que passou. E não queremos esquecer, porque isso também fez parte da nossa história.

Nossa primeira indecisão foi sobre aonde morar. Tudo começou com Londres. Queríamos viver na Inglaterra, pela língua, pelas oportunidades, pela vida. Mas bem na época em que eu estava tirando minha cidadania, a Inglaterra decidiu sair da União Europeia, e apesar de ainda estar em andamento, nossa vida ficaria um pouco complicada caso de fato saísse. Abortamos a missão. Depois disso, cogitamos morar na Austrália através de um programa para pessoas de até 30 anos com cidadania Européia, porém a correria seria muito grande porque eu já estava quase completando a idade limite (velha). Irlanda superlotada de brasileiros. Canada sem vantagem nenhuma para o meu passaporte. Portugal em crise. Itália nem cogitamos - não falávamos italiano e o país estava super lotado de imigrantes. Holanda. Analisando todos os objetivos que tinhamos em mente, a Holanda era o ideal! Alta qualidade de vida, baixa taxa de desemprego, Amsterdam é maravilhosa, custo de vida médio/alto, mas o salário era compatível... tinha tudo o que queríamos! Decidido! Batemos o martelo, compramos a passagem, e lá fomos nós pesquisar tudo sobre nosso futuro novo lar. Noites em claro procurando apartamento, pesquisando sobre trabalho, sobre visto pro Tiago... cada dia parecia ser mais difícil ainda!

Nessa mesma época, minha mãe contou para uma grande amiga dela, a Lourdes, que estávamos decididos a ir embora do país, especificamente para a Holanda. Essa amiga da minha mãe tem uma
"prima da filha da amiga da vizinha" (mentira, é só prima mesmo), a Barbara, que vive na Bélgica há alguns anos. Ela sugeriu que nós entrássemos em contato com sua prima para pegar alguns dicas, já que a Bélgica e a Holanda ficam coladinhas uma na outra. Eu já conhecia a Barbara de longas datas, já que quando éramos crianças costumávamos brincar juntas nas férias de verão no Guarujá. Foram quase 25 anos de distanciamento até eu chamá-la no WhatsApp no começo de 2018.

A Barbara foi gentil, simpática e prestativa desde o início! Me ligava para conversarmos, estava sempre disponível para me ajudar com as minhas inseguranças sobre o nosso destino e deu várias dicas do que poderíamos fazer.

Algumas semanas depois, no começo de janeiro, ela veio com uma nova proposta que mudou tudo o que vinhamos pensando até aquele momento: o Matteo, seu namorido, tinha um apartamento vazio em uma cidade próxima a Milão, Imbersago, e poderia alugar para nós.

Conversei com o Ti naquele mesmo dia, mas a resposta foi bem diferente do que eu esperava: um alto e sonoro NÃO. A questão é que o Ti demora muito para tomar uma decisão, mas quando toma, não quer mudar. E ele se apegou à ideia de ir para a Holanda, de viver em Amsterdam. Eu entendo - já tinhamos passagens compradas, tinhamos perdido muito tempo vendo tudo sobre o país, ele estava estudando inglês e já tinhamos falado para um monte de gente que iriamos para a Holanda. Ele não queria mudar tudo em cima da hora e eu entendi. Continuamos então na saga do apartamento e do visto dele na Holanda, e conforme os dias iam passando, eu ia ficando mais e mais angustiada. O coração apertado do medo, da ânsia, de não saber o que aconteceria quando chegassemos lá.

Mas depois de alguns dias o Ti resolveu conversar comigo sobre isso e reconsiderar a ida para a Itália. Confesso que também não era o que eu queria, meu objetivo era um país que falasse inglês, e a Itália estava bem longe de ser esse lugar. Mas resolvemos apostar nossas fichas e começar um lugar mais "seguro" onde eu já teria a cidadania e uma casa. Quem sabe mais para frente poderiamos nos mudar.

A partir desse dia fomos repensando toda a nossa rotina, ficamos mais próximos da Barbara e meu coração se acalmou. Remarcamos a nossa passagem. Alguns dias antes de embarcarmos, a Barbara mandou mais uma mensagem falando que seu marido tinha sugerido ficarmos em uma cidade chamada Carate Brianza, no apartamento que tinha sido do pai dele. Nos mandou fotos, mapas, e tudo o que poderia para nos apresentar esse novo local, que prontamente aceitamos.

A Barbara e o Matteo são nossos padrinhos nessa nova vida. Espero que um dia possamos retribuir a eles toda a ajuda, o carinho, a paciência, o dinheiro investido (os passeios para os quais nos levaram, o apartamento alugado com um preço abaixo do mercado). Espero honestamente, também, que um dia possamos fazer por alguém o mesmo que eles fizeram por nós! Dizem que devemos nos dar o direito de aceitar as coisas boas que as pessoas fazem por nós, como uma corrente do bem. Estamos aceitando com a maior gratidão do universo, Matteo e Barbara. Obrigada <3

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